Samba de Coco Raízes de Arcoverde
Cultura tradicional

Samba de Coco Raízes de Arcoverde

De dentro dos quilombos é que vem as bases para o coco. A mazuka era o nome tradicional e ainda pode ser visto em alguns grupos de coco atuais. Uma manifestação cultural popular que tem variações como o coco de ciranda, o de beira de praia, o de umbigada e o de raiz. Em Arcoverde, interior de Pernambuco, o coco de Trupe ganha o destaque. É feito pela batida dos pés com o tamanco no chão de terra e acompanhado pelo triângulo, pandeiro, surdo e o ganzá.

O grupo Samba Coco Raízes de Arcoverde é um dos símbolos que perpetua essa manifestação cultural. Com influência de elementos das culturas indígena e negra, o grupo é um retrato da poesia do sertão e do regionalismo nordestino. Formado em 1992 por Lula Calixto e pelas famílias Gomes e irmãs Lopes, o grupo passou a ser conhecido do público a partir de 1996, quando rompeu as barreiras da pequena cidade de Pernambuco e passou a se apresentar Brasil afora e no exterior. Já se apresentaram na Alemanha, Bélgica, Itália Noruega e França.


Lula Calixto nasceu em Sertânia, no sertão pernambucano. Chegou em Arcoverde, também na Zona da Mata pernambucana, em 1952, aos oito anos de idade. Ao longo de sua vida, teve contato com várias conquistas, principalmente de Alagoas e do Maranhão.

A sonoridade percussiva do Samba de Coco Raízes de Arcoverde representa o coco Trupe, desenvolvido por Calixto a partir de suas vivências musicais, e consiste em uma rápida e forte batida dos pés no chão com tamancos de madeira, usados como instrumentos percussivos. O samba e os folguedos de roda são outras manifestações presentes na dança e na música do grupo, marcados pelo triângulo, pandeiro, surdo e ganzar, que dão tônus ao ritmo do Samba de Coco Raízes de Arcoverde.


Nas letras das canções, a simplicidade e mensagens positivas embalam, de maneira divertida, o som frenético do coco ritmado. O recorte cultura do trabalho autoral é seletivo e original, uma vez que o som produzido e divulgado pelo grupo foge dos padrões estilizados de coco e música nordestina em geral.

O grupo tem 3 CDs gravados. O primeiro Samba de Coco Raízes de Arcoverde, lançado em 2000, tem 12 faixas. Entre os sucessos estão Seu Maia, Loruá, Acorda Criança e A Caravana não morreu.


O segundo CD, intitulado Godê Pavão, de 2003, possui 15 faixas, entre elas: Abelha Aripuá, Galinha Zabelê e Despedida de amor.

Em 2010, ao serem contemplados com o Prêmio Circuito Funarte de Música Popular, pela Funarte e Ministério da Cultura, o grupo lançou A caravana não morreu, com 12 faixas.


HISTÓRIA

Apesar de ter surgido em 1992, nessa época ainda junto às irmãs Lopes, que hoje fazem trabalho separadamente, o Samba de Coco Raízes de Arcoverde só ficou conhecido em 1996, quando começou a viajar para fazer apresentações. Em 2005, a caravana foi selecionada no projeto Rumos da Música, do Itaú Cultural, que dá espaço para a produção contemporânea de arte e cultura do Brasil.

Em 1999, Lula Calixto falece, aos 57 anos. Todos os anos a família recebe amigos e visitantes para comemorar o aniversário do mestre, no mês de novembro, o que originou em 2005 o Festival Lula Calixto. A primeira edição do festival ocorreu em frente à casa da família, sem patrocínios, com a presença das Irmãs Lopes, Grupo Afoxé Oyá Alaxé, entre outros. O evento ganhou grande repercussão e passou a ser um evento importante na cidade de Arcoverde, com oficinas, palestras, palcos para apresentações de grupos e artistas de várias regiões.

ENCONTRO DE CULTURAS

O Samba de Coco Raízes de Arcoverde participou do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros em 2011, na noite de encerramento do XI Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.

Assis e Damião Calixto, irmãos do falecido mestre Lula Calixto, não deixaram o samba morrer, mantendo a tradição viva na família. “É a herança que ele deixou pra gente e pediu pra mim e pro Damião não deixarmos morrer, envolver sempre a família. Hoje, minhas sobrinhas e filhos todos dançam e tocam no Samba de Coco”, conta seu Assis, que ensina a técnica de confecção do tamanco de madeira e o ritmo do Samba de Coco para todos aqueles que quiserem aprender, inclusive dando aula em algumas escolas de Arcoverde.

A batida dos tamancos acelerava o ritmo da música e prendia a atenção dos expectadores curiosos, que tentavam acompanhar com os olhos os pés rápidos dos dançarinos, que batiam com força e agilidade os tamancos de madeira no tablado. Além do ritmo dos tamancos, o Samba de Coco é feito também por outros quatro instrumentos: ganzá, surdo, triângulo e pandeiro.

O grupo chamava atenção pela animação que transbordava do palco e invadia os pés de todos que assistiam, tentando acompanhar o ritmo. Para animar ainda mais o público, dois dançarinos desceram do palco e dançaram com alguns participantes em uma roda feita pelos expectadores animados, que continuaram com a dança mesmo depois do casal ter subido de volta ao palco.

Durante o show, Lula Calixto foi homenageado com uma música que ele escreveu dois dias antes de morrer. “Ele escreveu essa música que falava da nossa mãe, numa sexta-feira. A gente ia gravar, mas ele faleceu na segunda e tivemos que gravar sem ele”, conta Assis. No palco, o grupo cantava apenas o início de cada verso da canção e o público continuava em coro, acompanhando com palmas.

O Samba de Coco Raízes de Arco Verde recebeu no palco o contador de casos Adiel da Lua para uma participação especial. Ele contou algumas histórias e se juntou à festa no palco, cantando e dançando com Damião e Assis. Logo depois, alguns membros do grupo Passarinhos do Cerrado também se juntaram ao show e cantaram uma música que os dois grupos gravaram juntos.

INFÂNCIA COM SAMBA DE COCO

O grupo desenvolve um trabalho especialmente para as crianças de Arcoverde, compondo cantigas infantis e ensinando nas escolas. Assis Calixto conta que hoje em dia não se encontra mais músicas infantis como antigamente. “As brincadeiras não são mais as mesmas e as crianças não tem mais essas cantigas divertidas e inocentes, então eu estou compondo alguns sambas de coco especialmente pras crianças”, explica.

Assis conta também que crianças desde os cinco anos de idade já se animam com as cantigas do coco e logo querem aprender a dançar e cantar. Alguns versos desse trabalho novo foi apresentado no palco por Assis, animando também o público adulto:

Cavalinho é de barro
A boneca é de pano
No recreio da escola
Nós todos brincamos

As meninas de roda
Os meninos com bola
No recreio da escola
Nós todos brincamos

Ela dança ciranda
Sua voz tão bonita
Com boneca de pano
A todos conquista

Cavalinho é de barro
A boneca é de pano
No recreio da escola
Nós todos brincamos

OFICINA

O facão cortava a madeira para dar forma a um tamanco do tamanho do pé de Samantha de Oliveira, participante da Oficina de Tamancos e Dança do Coco, ministrada pelos pernambucanos do grupo Samba de Coco Raízes do Arcoverde. A mão habilidosa a empunhar o facão era de Assis Calixto, um dos membros mais antigos do grupo. "Quem começou com isso foi meu irmão, Lula Calixto. Ele teve essa ideia de fazer o tamanco pra usar como percussão e eu aprendi a fazer os tamancos com ele há uns 12 anos e continuei com a tradição depois que ele morreu”, conta Assis.

As batidas do facão logo deram forma à madeira, que ele lixou com muito cuidado para colocar a faixa de couro com pequenos pregos. Além dos tamancos para a dança, seu Assis confecciona chaveiros de tamanquinhos, todos esculpidos na faca. Ele conta que, no início, os primeiros tamancos eram feitos de tiras de calça jeans cortadas, mas aos poucos conseguiram se modernizar.

Depois de confeccionar o tamanco, chegou a hora de usá-lo. O grupo se juntou para mostrar o que era o batuque do samba de Coco, puxado pelo irmão de seu Assis, Damião Calixto. “No Samba de Coco a gente usa só quatro instrumentos: triângulo, pandeiro, surdo e o ganzá. A percussão é feita pela batida dos tamancos”, explica Damião.

Os participantes não tiveram dificuldade em acompanhar o primeiro passo, chamado de passana, mas na hora de ensinar os passos mais complicados, como o trupé e o trupé cortado, muitos dos participantes se enrolaram. “Eu achei muito difícil, é preciso ter muito ritmo e coordenação. Foi uma honra ter ganhado o tamanco do seu Assis, mas ainda preciso treinar muito pra dançar”, contou Samantha, que ficou encantada com a sabedoria e humildade do grupo.

2020

Em 2020, o Grupo de Coco Raízes do Arcoverde se apresenta no XX Encontro de Culturas Tradicionais, edição virtual, no dia 14 de agosto, a partir das 19h, junto ao grupo Coco de Praia do Iguape do Mestre Chico Casueira.

   

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