Ponto Br
Cultura tradicional

Ponto Br

Ponto br é um coletivo que reúne alguns dos principais guardiões da nossa cultura tradicional, como Mestre Walter do Maracatu Raízes de África, Mestra Zezé de Iemanjá da Casa Fanti Ashanti (MA) e Ribinha de Maracanã, amo e cantador do Bumba Boi de São Luís, em diálogo com a paulistana Renata Amaral, o pernambucano Eder O Rocha, o suíço Thomas Rohrer e o maranhense Henrique Menezes, músicos conhecidos da cena contemporânea.


Propõe o espaço da arte como local de encontro e diálogo possível entre vertentes e gerações, onde diferenças estéticas e temporais são harmonizadas. Se tornou referência do diálogo com nossa cultura tradicional, recebendo diversos prêmios e aprovações em editais públicos de empresas como Petrobras, Caixa e Natura, se firmando como um dos principais coletivos da cena musical contemporânea. O primeiro álbum do grupo é Na Eira:

"Bantus, holandeses, kariris, ashantis, krahôs, nagôs, portugueses, guaranis, franceses, jejes e tantos outros inter-relacionaram seus deuses, fundindo e particularizando as manifestações de sua fé em incontáveis tradições, esculpidas na transmissão oral pela memória de seus mestres, realizando também no plano espiritual a mestiçagem brasileira. A música e a dança, essenciais em todas essas celebrações, são quem chama à terra os ancestrais que se manifestam nos corpos-altares se seus filhos.

Cantados em muitas línguas, tocados em muitos tambores, entre palmas e trupes, estes pontos são de uma beleza surpreendente. São melodias e ritmos matrizes da nossa música urbana, pequenos cantos | contas que formam um fio que nos guia e nos protege. Ponto BR propõe o espaço da arte como local de encontro e diálogo  possíveis entre vertentes e gerações, onde as diferenças estéticas e sócia são harmonizadas revelando uma outra via para o fazer artístico. Um outro espaço. Na eira."


Em 2017, o Festival Ponto Br de Jardim a Jardim ocupou centro e periferia da cidade de São Paulo, com shows, oficinas e cortejos, reunindo cerca de 4 mil pessoas. Em 2018, realizou dois shows de pré-lançamento do disco Trancelim, o segundo do grupo, no palco do Sesc Paulista, que foi lançado oficialmente em novembro de 2018, no palco do Sesc Pompeia, em São Paulo. Sobre Trancelim:

"Toadas de Maracatu (PE), doutrina de Tambor de Mina e de Tambor da Mata, Bumba Boi do (MA), Jongo (RJ), Forró da Rabeca (PE), cocos de Pernambuco, Caixa do Divino (MA), Pífanos (AL) e a “bourian”, de Benin, no Continente Africano, fazem parte desta trama em forma de CD denominada Trancelim.

Viabilizado por meio de um financiamento coletivo com centenas de apoiadores, o disco teve participações especiais das Caixeiras do Divino Espírito Santo da Casa Fanti Ashanti (MA), do Jongo da Serrinha (RJ), de Seu Nelson da Rabeca e Dona Benedita (AL), de Sebastião Biano (AL) e da Comunidade Agoudá de Porto Novo (Benin)."


O Ponto Br se apresentou duas vezes no Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros: em 2013 e 2019, está última no espaço da Aldeia Multiétnica. 

ENCONTRO DE CULTURAS

A passagem do grupo Ponto BR pelo XIII Festival de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em 2013, foi bem além do aclamado show, realizado na noite do dia 21 de julho. Seguindo a semana, os integrantes do grupo realizaram oficinas que reuniram participantes de várias partes do Brasil, em busca de conhecimentos sobre as diversas manifestações populares que convergem dentro do Ponto BR. Assim como propõe a união do grupo, as oficinas ofereceram um “encontro e diálogo possíveis entre vertentes e gerações”. Foram saberes e sonoridades que seguirão Brasil afora, levados por cada uma das pessoas que presenciaram e aprenderam mais sobre maracatu, caixas do divino, bumba-meu-boi e rabeca.

Oficina de Maracatu Nação, com Mestre Walter França e Eder “O” Rocha
A Casa do Artesão ficou pequena para a Oficina Maracatu Nação, realizada na tarde do dia 22 de julho, segunda-feira. Eram cerca de 50 pessoas, que revezaram os tambores tradicionais do maracatu e os instrumentos feitos com material reutilizado, cedidos pelo grupo Boca do Lixo. Ao redor dos tocadores, mais participantes dançavam ao som das toadas e dos tambores liderados por Mestre Walter França, do Maracatu Estrela Brilhante (PE). “Não feche o portão, deixe o maracatu entrar no seu coração”, já avisava o Mestre, preparando todos para os ensinamentos que seguiriam até anoitecer.

O músico e percussionista Eder “O” Rocha, que também fez parte do grupo Mestre Ambrósio, iniciou a oficina com um breve contexto histórico sobre o maracatu e com a base dos toques dos tambores. Assim como Mestre Walter, ele frisou a importância da vivência para a formação musical de quem deseja tocar maracatu e da responsabilidade em ter contato com uma manifestação cultural que ultrapassa o domínio da arte. “No momento em que uma pessoa faz uma oficina de maracatu, ela dá continuidade a uma tradição de 400 anos”, destacou Eder.

"Essa oficina é prova de que o maracatu une pessoas, sem precisar saber quem é quem. Ele não pede identidade. Para viver o maracatu você tem que dizer pra si mesmo 'eu peço, eu quero, eu posso, eu vou'. O maracatu é como uma feijoada. Sem um bom tempero não presta”, explicou Mestre Walter ao comentar sobre a diversidade de participantes da oficina.

Oficina Caixa do Divino, com Zezé de Iemanjá e Renata Amaral
Na manhã de terça-feira, 22 de julho, Zezé de Iemanjá, também ekedi e caixeira do Divino da Casa Fanti Ashanti, acompanhada da pesquisadora e musicista Renata Amaral (A Barca), ministraram a Oficina Caixas do Divino. Com uma turma em maioria formada por mulheres, elas apresentaram a base de toque da caixa e os cânticos que tradicionalmente acompanham as festas do Divino Espírito Santo. “Eu não consigo e não tenho nem autorização pra explicar o mistério que vem lá de cima. Em cada cântico uma pessoa sente uma emoção diferente”, explicou Zezé ao falar sobre as músicas que fazem referência a santas como Nossa Senhora da Guia e Senhora Santana.

Concentrada e atenta aos ensinos, a bailarina e pesquisadora da cultura popular Joice Temple não conteve a emoção e chorou durante um dos cânticos. “As pessoas precisam conhecer a cultura popular. Fiquei muito emocionada porque a energia que a Zezé e a Renata têm são muito bonitas. Eu senti uma energia muito forte, uma luz divina. Tudo que eu vivi aqui na Chapada dos Veadeiros é sem palavras, só sentindo mesmo pra explicar”, comentou Joice, que saiu de São Paulo para a Vila de São Jorge em busca de mais conhecimento sobre as culturas tradicionais.

Oficina de Rabeca, com Thomas Rohrer
O som fanhoso e diversificado da rabeca foi dos destaques do show do Ponto BR. Thomas Rohrer evocou melodia das cordas e do corpo da rabeca com a emoção de quem ouvia as oscilações do arco. É assim que vários “rabequeiros” surgiram, amor ao primeiro timbre. E desse mesmo jeito, Thomas conquistou participantes para a oficina sobre o instrumento que ministrou na quarta-feira, 24 de julho. Alguns eram músicos querendo trocar experiências, mas a maioria era de curiosos apaixonados que queriam um motivo para ouvir novamente o som da rabeca.

Ao longo da oficina, Thomas contou um pouco da história do instrumento que se assemelha ao violino, e que pode ser confeccionado a partir de vários materiais inusitados além da madeira, como latão, PVC ou cabaça (o som da rabeca varia de acordo com o material fabricado). “Eu comecei com a rabeca, porque achei o som fascinante. Vi possibilidades diferentes do violino, que era muito ligado a partituras. A rabeca, ao contrário, tem os timbres, as preparações e improvisações livres”, contou sobre seu primeiro contato com o instrumento. Entre os rabequeiros presentes na oficina surgiram algumas sugestões para quem quisesse conhecer mais: o livro Rabeca, o Som Inesperado, de José Eduardo Gramani; o disco Palavras Quero Dizer, de Zé Gomes; e o filme Comitiva Esperança.

O bate-papo estava bom, mas Thomas interrompeu a conversa para levar aos ouvintes o que eles tanto ansiavam: o som da rabeca. Thomas incluiu os instrumentos que as pessoas levaram, como pandeiro, violino e tambor, em um improviso coletivo. Quem não tinha levado contribuiu com a voz. E entre a rabeca e a regência, Thomas conduziu uma música improvisada que embalou os vinte minutos finais da oficina.

Oficina Meu Boi, com Ribinha
A oficina Meu Boi foi ministrada por Ribinha, representante do Batalhão do Boi de Maracanã. Na oportunidade, os brincantes que se inscreveram aprenderam um pouco sobre a dinâmica dos grupos de bumba-meu-boi no Maranhão, além de participarem das toadas feitas ali, para ilustrar e demonstrar o trabalho do grupo. Com instrumentos como matraca, pandeirões e tambores-onça, usados para acompanhar os cantantes com suas rimas e poesias, a oficina virou uma grande e descontraída brincadeira. Hoje, o Meu Boi de Maracanã possui milhares de brincantes que participam da festa em período junino.

Ribinha, que participou do encontro representando seu pai, Humberto Maranhão, contou que uma das maiores dificuldades para continuar cuidando e alimentando o interesse da população por essas manifestações culturais é o descaso do poder público. “Hoje, a festa do Boi no Maranhão é como o Carnaval do Rio de Janeiro e, no entanto, o poder público investe muito pouco ainda nessas apresentações - se formos comparar o que é investido em outros cantores e bandas que são levados para os mesmos festivais que participamos.”

Alguns dos sotaques comentados na oficina foram a matraca e a baixada. Entenda como são esses ritmos:

Sotaque de matraca - A matraca é o instrumento utilizado para dar ritmo à toada. Com dois pequenos pedaços de madeira e o acompanhamento de pandeirões e tambores-onça, o cantador brinca e desenvolve novas poesias para estimular os outros grupos de meu boi. Além de serem acompanhados pelo cordão de rajados, caboclos de fitas, índias, vaqueiros e caboclos de pena.

Sotaque da baixada - Embalado por matracas e pandeiros pequenos, um dos destaques deste sotaque é o personagem Cazumbá, uma mistura de homem e bicho, que, vestido com uma bata comprida, máscara de madeira e de chocalho na mão, diverte os brincantes e o público. Outros usam um chapéu de vaqueiro com penas de ema.


   

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