Lundu de Lezeira
Cultura tradicional

Lundu de Lezeira

A diversidade das manifestações culturais da pequena Comunidade Quilombola de Custaneira, a sete quilômetros do município de Paquetá, no semiárido do Piauí, surpreende. 

No vilarejo, que em 2010 tinha 20 casas e 129 moradores, o Lundu de Lezeira, Samba de Cumbuca, Reizado, Roda de São Gonçalo e o Terreiro de Umbanda compõem o repertório entoado por instrumentos de percussão. Um deles é especial: o Tambor da Mata. Seus 70 centímetros de diâmetro emitem um som que ecoa longe.


No Lundu de Lezeira, os lundus são versos recitados de geração em geração, ou elaborados espontaneamente durante a dança, com a marca da improvisação e da criatividade. Uma dança reconhecida como resistência à escravidão e singular manifestação específica desta comunidade, não sendo encontrada em nenhuma outra. 


O mestre de cultura popular da comunidade é Arnaldo de Lima, mais conhecido como Naldim. Ele conta que os fazendeiros da região de Custaneira tinham uma obediência rígida ao catolicismo na Semana Santa. Já os seus ancestrais quilombolas, nesse período, na quinta-feira (última ceia) e, principalmente, na sexta-feira (morte de Cristo), ficavam de resguardo do corpo em relação aos excessos. "Não se varria casa, não se cortava com faca, não se fazia nada". Ele esclarece ainda que "era um dia livre da negrada, ali na senzala da nossa região". Assim, os negros criaram a roda da lezeira.

"Sexta-Feira Santa sem roda de lezeira não é Sexta-Feira Santa lá na nossa comunidade", diz Arnaldo. Ele conta que nesse dia especial "quando nós fazemos no espaço da comunidade, de barro e areia, de manhã fica aquela roda como se os bois tivessem trabalhado em um engenho a noite toda". Ele diz que onde se roda a roda nesse dia, o chão 'afunda'.


REFRIGERANTE

A Comunidade Custaneira começa a se preparar três dias antes da roda de lezeira, colocando para fermentar milho, doce da rapadura e farinha, os ingredientes da bebida chamada Aluá. O mestre explica que é um refrigerante para ajudar na digestão da comida muito gordurosa e pesada, que é servida durante a festa, principalmente na Sexta-Feira Santa. Apesar de, por questão de tempo, não conseguir produzir a bebida no Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, o mestre conta que em todas as festas realizadas na comunidade o Aluá é preparado.


INSTRUMENTOS

"A gente pediu força ao tambor para que ele nos conduzisse até aqui, para que a gente pudesse fazer sem ele o que a gente faz lá nas nossas festas", lembra Naldim, também mestre do Tambor da Mata. Este instrumento, segundo ele, é muito grande, o que inviabilizou transportá-lo e trazê-lo à Vila de São Jorge.

A importância do instrumento na dança de roda é grande. "São 70 centímetros de diâmetro, o som do tambor vai longe", lembra. Mas ele não desanima com a ausência do tambor da mata e lembra do pandeiro e do maracá. "Se tiver o instrumento vai, se não tiver, vai também". E explica que o som produzido na batida dos pés dos irmãos também é fonte de garantia de ritmo na roda.

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