Nascida em João Pessoa (PB), Cátia de França é cantora, compositora e multi-instrumentista. Em mais de 40 anos de carreira, Cátia gravou seis discos e se tornou uma lenda viva da música regional brasileira. Suas canções já foram gravadas por grandes nomes da MPB, como Elba Ramalho, Amelinha e Xangai, além de ter participado de festivais de música popular na década de 60, época em que viajou à Europa com um grupo folclórico.
Versátil e estudiosa, desde menina aprendeu a dominar instrumentos como o piano, a sanfona e o violão. Mais tarde, se interessou pelos acordes de flauta e pela percussão. Chegou a ser professora de música e, em meados dos anos 70, se aventurou nas composições próprias em parceria com o poeta Diógenes Brayner. A poesia e a admiração por literatura seriam marcas de sua música a partir daí.
“Meu trabalho é todo pautado em escritores. Eu não me inspiro porque a lua está assim ou assado, porque estou apaixonada ou estou sofrendo. É sempre um lastro, um alicerce que me dá credibilidade e me torna eterna”, conta Cátia.
Na época, a artista morava no Rio de Janeiro e integrava um grupo de músicos e amigos nordestinos que a ajudaram a iniciar a sua carreira. Acompanhou Zé Ramalho na lendária turnê “Avohai”, tocando sanfona.
O primeiro LP solo, o clássico cult “20 palavras ao redor do sol”, lançado em 1979, foi inspirado em poemas de João Cabral de Melo Neto. O álbum contou com Zé Ramalho na direção musical, arranjos e violas; Dominguinhos e Sivuca nas sanfonas, Amelinha e Elba Ramalho nos vocais de apoio, Lulu Santos na guitarra e Bezerra da Silva, tocando berimbau. O álbum é cru e traz uma emoção rasgada, com imagens mágicas do sertão.
Além de João Cabral, sua obra faz referências a Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Manoel de Barros, entre outros. São frutos do gosto pela leitura cultivado desde a infância, algo que foi introduzido pela sua mãe, professora. “Faltava manteiga, mas não faltava livro”, se orgulha a compositora.
Foi parceira de palco de Jackson do Pandeiro durante a primeira versão do “Projeto Pixinguinha”, em 1980. No mesmo ano, lançou o segundo trabalho, “Estilhaços”, que evoluiu a sonoridade e trouxe a eterna Clementina de Jesus como participação especial.
Em 1985, lançou o LP “Feliz demais”, com uma evolução sonora e influência da música negra. Já em 1998, foi lançado o álbum “Avatar”, com participação de Chico César e o parceiro de composição Xangai. Nesse seu primeiro lançamento em CD, Cátia moderniza sua música com canções que parecem mantras. Em 2012, ela se debruçou sobre o ciclo da cana de açúcar nordestino como descrito nos romances de José Lins do Rego, seu conterrâneo, no disco “No bagaço da cana um Brasil Adormecido”. Nesse disco, todas as canções são orquestradas por um coletivo exclusivamente feminino, o Camerata Arte Mulher.
Cátia também adentrou o mundo da literatura, escrevendo os livros “Zumbi em Cordel”, “A peleja de Lampião contra a fibra ótica”, “Falando de Natureza Naturalmente” (infantil) e “Manual da Sobrevivência”, um resgate de sua trajetória pessoal e profissional.
“Hóspede da Natureza” vem para denotar um novo momento na carreira da artista, tornando-se um de seus trabalhos mais intensos. O disco, que vem com o patrocínio do Natura Musical, é um de seus trabalhos mais intensos e cria um dos pontos altos de sua carreira. Gravado e produzido por Rodrigo Garcia entre o fim de 2005 e 2006, o disco busca inspiração na bíblia hippie "Walden, ou A Vida nos Bosques", escrito em 1847 por Henry D. Thoreau. A obra exalta a comunhão com a natureza e coloca em xeque noções de posse, consumo e necessidade, celebrando o conceito de subsistência com as próprias mãos.
Pensando nisso, o trabalho foi norteado por um espírito intimista. Não por acaso, grande parte do processo de gravação aconteceu nos cômodos de uma casa, localizada em São Pedro da Serra, na serra fluminense. Garcia reuniu um time de peso, dentre eles alguns instrumentistas da banda de Cássia Eller, para dar forma às composições de Cátia. Os créditos do disco contam com músicos de renome, como o multi-instrumentista de sopros Marcelo Bernardes, que grava e excursiona com Chico Buarque, Walter Villaça nas guitarras a conceituada Lan Lan (Elba Ramalho, Marisa Monte, Nando Reis, etc.) na percussão. “Hóspede da Natureza” é um lançamento do selo Porangareté com patrocínio do Natura Musical e chegou aos serviços de música digital em agosto de 2016.