Dança de origem africana, a Caretada, também chamada de Caretagem, é uma tradição passada de geração a geração nas comunidades remanescentes de quilombos de Paracatu (MG). A festa é realizada em todo 23 para 24 de junho, coroando e precedendo a novena de São João Batista.
Na Comunidade de São Domingos acontece a maior e mais antiga Caretada da cidade, celebrada há mais de 200 anos. Esta manifestação é realizada apenas por pessoas negras, principalmente homens.
No rito da coreografia, são 40 elementos distribuídos em 20 damas (homens travestidos) e 20 cavalheiros. As mulheres não participam, pois são elas que preparam as comidas e bebidas para receberem os caretas nas casas, onde as pessoas comem e bebem à vontade durante a festa.
A indumentária é toda em fitas coloridas, terminadas por guizos de bronze. Os caretas usam também as máscaras, que, segundo dona Magna, eram utilizadas para que os senhores de escravos não reconhecessem quem estava dançando.
A instrumentação típica é composta de uma sanfona pé-de-bode, gaita ponto, pandeiro, caixa, violão, viola, rabeca e maraca. Tudo originalmente histórico e rústico, assim como as músicas cantadas pelos caretas.
Além de São Domingos, a Caretada de Paracatu também é realizada nos distritos do São Sebastião e Lagoa de Santo Antônio e nos bairros Alto do Açude e Paracatuzinho.
ENCONTRO DE CULTURAS
Quem estava nas ruas da Vila de São Jorge na noite de 24 de julho de 2017, uma segunda-feira, se fascinou com as cores, os ritmos e as máscaras da Caretada. A dança de origem africana alegra a cidade de Paracatu, em Minas Gerais, há mais de 200 anos e veio fortalecer o IV Encontro Quilombola com seus gracejos. Antigamente, não se dançava a Caretada fora do período religioso, mas apenas às vésperas do dia de São João Batista. Até que os moradores de Paracatu decidiram que a cidade era pequena para acomodar tamanha riqueza cultural. Eles acreditavam que o resto do mundo merecia ser apresentado aos seus ritos centenários.
Além de festejar a tradição centenária, a Caretada também representa a resistência histórica da população de Paracatu. A cidade é composta majoritariamente por negros e, mesmo assim, o Secretário de Cultura de Paracatu, Isac Arruda, aponta que o volume de expressão afrodescendente é mínimo. “Estar aqui é uma forma de empoderamento”, ele enfatiza, orgulhoso, enquanto os 22 Caretas se preparam para dar início às apresentações no XVII Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.
Com fitas coloridas, guizos de bronze e ao som da sanfona, a Caretada cruzou toda a vila de São Jorge até chegar ao palco principal do Encontro. No caminho, foram dançando e arrastando os curiosos. Os rostos atrás das máscaras eram todos negros, símbolos da tradição passada de geração a geração e que começou nos quilombos da região mineira de Paracatu ainda na época da escravidão. Tanto que as máscaras surgiram para que eles não fossem reconhecidos pelos senhores de escravos. E se hoje a dança ainda existe, é graças à persistência da comunidade. “Lá na cidade temos oficinas de arte para ensinar a Caretagem e outros costumes tradicionais”, explica a Diretora-Presidente da Fundação Municipal Casa de Cultura de Paracatu, Graciele Mendes. São mais de 900 alunos, de 12 a 86 anos, que frequentam as aulas e mantêm viva a cultura quilombola local.
Dentinho participa das apresentações há dois anos, tocando atabaque e pandeiro. Quando se apresenta, ele sente que “desperta aquela vontade de querer fazer, uma energia que impulsiona pra frente”. Assim como a maior parte do grupo que veio se apresentar no Encontro de Culturas, Dentinho é jovem, e ilustra a importância dos mais novos no resgate cultural. Enquanto viajam e festejam a Caretada, eles espalham as tradições de Paracatu Brasil afora.