Boi de Ribamar
Cultura tradicional

Boi de Ribamar

O Boi de Ribamar é um dos diversos grupos de Bumba-meu-boi do Maranhão e pertence à Associação Folclórica Ribamarense de Bumba-meu-boi de Matraca, localizada na cidade de São José de Ribamar. A matraca é seu principal instrumento e suas cores são verde, amarelo, azul, branco e vermelho. O grupo se apresenta tradicionalmente nos festejos juninos do Maranhão, que reúnem milhares de pessoas.

A MANIFESTAÇÃO

*O bumba meu boi teve origem em meados século XVII, com o ciclo do gado, na região nordeste do Brasil, fruto da miscigenação das culturas negra, indígena e portuguesa.O folguedo representa uma das maiores manifestações culturais do país, sendo realizado em diversos estados, como Amazonas, Pernambuco e Rio de Janeiro, de maneiras diferentes. 

A festa narra o renascimento do boi mais bonito de uma fazenda, morto por pai Francisco para saciar o desejo de sua esposa grávida, mãe Catirina. Ao descobrir a morte de seu boi preferido, o dono da fazenda manda pai Francisco ressuscitar o animal, o que faz o nego Chico buscar pajés e doutores para salvar o boi e a vida de pai Francisco. 

Segundo dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Maranhão reúne cerca de 450 grupos. A brincadeira é praticada em quase todo o estado, mas se concentra principalmente nas regiões Norte e Nordeste, sendo a região de São Luís o lugar com maior número de grupos. 

Em Juçatuba, povoado localizado no município de São José de Ribamar, há relatos de que a cultura do bumba meu boi é festejada há mais de 100 anos, como forma de promessa para São João*

Vamos apreciar uma toada do Boi de Ribamar:

"Sabiá cantou na baixa
Que as águas do mar balanceou
Não te assusta
Não te admira
Com meu touro brabo
Pai da Malhada que urrou"

Aqui no Encontro de Culturas, o Boi de Ribamar encerrou nossa edição IX, em 2009, em uma belíssima apresentação. Confira o registro histórico, gravado por Rogério Tomáz JR, que estava presente neste dia e compartilhou conosco:

*texto de Marcus Elicius Garcez. Acesso: https://www.academia.edu/41079371/Bumba_Meu_Boi_de_Ju%C3%A7atuba_MA_fotografias_como_fonte_hist%C3%B3rica_e_fortalecimento_da_cultura 

ENCONTRO DE CULTURAS
*Reportagem da repórter do Encontro em 2009, Gabriela Marques

Uma pequena mostra da cultura maranhense estaeve presente no IX Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em 2009. É a tradicional festa do Bumba-meu-boi, representada pelo grupo Boi de Ribamar.

Localizada na cidade de São José de Ribamar, região metropolitana de São Luis do Maranhão (MA), a Associação Folclórica Ribamarense de Bumba-meu-boi de Matraca promove, há mais de trinta anos, um dos diversos desfiles realizados durante os quase dez dias de festa no mês de junho. Os festejos fazem parte das comemorações de São João, santo protetor e padroeiro da brincadeira, São Pedro e São Marçal, que encerram o período junino.

A tradição representa a própria miscigenação das culturas branca, negra e indígena. "A festa é uma mistura religiosa e pagã", explica Seu Joel, presidente da Associação.

Cerca de quinze mil pessoas acompanham o desfile do Boi de Ribamar que, segundo Seu Joel, tem o mesmo valor para eles que os desfiles de carnaval do Rio de Janeiro. "Assim como no Rio, nós passamos o ano todo preparando o desfile para o período junino", explica.

Durante o Encontro, o grupo mostrou uma parte dessa festa. Cerca de 50 pessoas representaram o desfile que originalmente conta com cerca de quatro mil brincantes, entre caboclos de pena e de fita, índias, tocadores de tambor-onça, matraqueiros e pandeireiro.

Entre eles está João Chiador, um dos cantadores do Boi de Ribamar e o mais famoso do Maranhão.

A festa

A festa do Bumba-meu-boi ocorre na forma de um enredo. Assim, a primeira parte é constituída pelos ensaios que têm caráter preparatório e começam no Sábado de Aleluia, indo até o dia de Santo Antônio, 13 de junho.

Em seguida, tem o batismo no dia 23 de junho, em que o boi recebe as bençãos de São João. A terceira parte são as próprias apresentações que ocorrem até o fim do mês de junho em uma espécie de maratona nas diversas festas da região. Por fim, acontece a festa da morte do Boi, em agosto, marco final da boiada do ano.

O Bumba-meu-boi maranhense é dividido em "sotaques", sendo que os cinco mais conhecidos são matraca, zabumba, orquestra, baixada e costa de mão. Cada agremiação apresenta diferenças de ritmo, coreografias, instrumentos musicais, personagens e vestimentas. O "sotaque" do boi de Ribamar, por exemplo, é a matraca  e suas cores são verde, amarelo, azul, branco e vermelho.

A figura central da brincadeira é o boi feito de buriti, cujo couro é bordado com miçangas e canutilhos.

Origem da festa

A provável origem da festa do Bumba-meu-boi está no Nordeste do Brasil, nas últimas décadas do século XVIII, sendo elaborada pelas comunidades rurais que viviam nos engenhos de cana-de-açúcar e da pecuária rudimentar do gado nos sertões. Estas comunidades incorporaram ao auto do boi outros reisados, tais como burrinha, caipora, caboclos e cavalo-marinho.

No Maranhão, o Bumba-meu-boi se desenvolveu em torno de um único enredo (a história do boi). Conta-se que numa fazenda de gado havia um casal de negros escravos: o marido, chamado Francisco (Chico, Pai Francisco), e a mulher, Catirina. Ela, grávida e com desejo, pede ao marido que lhe traga língua de boi. Então, Pai Francisco rouba um boi do seu patrão.

Quando descobre o sumiço do animal, o patrão fica furioso e, após investigar entre seus escravos e índios, descobre o autor do crime e obriga Pai Francisco a trazer o boi de volta. Ele terá de dar conta do boi, sob pena de ser morto. Com isso, toda a fazenda foi mobilizada para salvar o boi.

São chamados primeiramente, os doutores, que não conseguem reanimar o animal. Em seguida, o dono da fazenda convoca pajés e curandeiros para salvar o animal e, quando o boi ressuscita urrando, todos participam de uma enorme festa para comemorar o milagre. A alegria foi contagiante. O boi estava salvo e também Pai Francisco.

*Informações da origem da festa foram retiradas do livro Bumba Meu-Boi - O maior espetáculo popular do Maranhão, de José Ribamar de Sousa Reis.

Sotaque de matraca

É característico da Ilha de São Luís, tendo como principais instrumentos as matracas (duas tábuas de madeira geralmente enceradas) e os pandeiros (grandes rodas de arco de madeira cobertos de couro de cabra).Tem um ritmo acelerado, sob o som estridente de dezenas de matraqueiros, formando grandes batalhões, onde o pessoal da percussão vem todo à paisana. Na frente acha-se o cordão de rajados, no qual chamam atenção os caboclos de pena com o seu forte bailado, ao lado das tapuias.

Este sotaque se destaca por atrair grande número de brincantes em suas apresentações. Os bois de matraca permitem uma maior participação do público já que qualquer pessoa com um par de matracas pode ajudar o grupo em suas apresentações, mesmo sem a indumentária.

Destacam-se como personagens desses grupos os caboclos de pena, brincantes cobertos de penas de ema, inclusive com grandes coroas de cerca de um metro e meio de diâmetro. Além dos caboclos de pena, são personagens dos grupos de matraca o Pai Francisco, homem que leva um facão de madeira abrindo caminho para o boi passar; e a burrinha, armação de buriti na forma de um burro, coberta de pano e sustentada por suspensórios nos ombros de um brincante.

São José de Ribamar

A cidade de São José de Ribamar é a sede de um dos quatro municípios que integram a Ilha de São Luís. Situada no extremo leste da Ilha, de frente para a baía de São José, dista cerca de 32 quilômetros da capital maranhense. Primitivamente era uma aldeia indígena. O acesso se dá por estrada asfaltada, levando em torno de 30 minutos. Uma boa combinação com um taxista pode render um passeio muito interessante.

Seu nome atual decorre da seguinte lenda: um navio que vinha de Lisboa para São Luís desviou-se de sua rota e, em plena Baía de São José, esteve ameaçado de naufrágio por grandes tempestades e vagalhões. Os tripulantes invocaram a proteção de São José, prometendo erguer-lhe uma capela na povoação ao longe avistada. Tal foi a contrição das súplicas, que, imediatamente, o mar acalmou-se. E todos chegaram a terra, são e salvos.

Para cumprir a promessa, trouxeram de Lisboa uma imagem de São José e a colocaram na modesta igrejinha, então erguida de frente para o mar. Mas devotos residentes na antiga Anindiba dos indígenas, atual Paço do Lumiar, entenderam que a imagem deveria ser levada para a pequena igreja daquela povoação. Sem que ninguém percebesse, realizaram seu intento.

No dia seguinte, porém, viram que a imagem não se encontrava mais ali, pois voltara, misteriosamente, à capela de origem. Repetiram a transferência e colocaram pessoas a vigiar o santo, para que ele não voltasse a Ribamar. São José, entretanto, transformando seu cajado em luzeiro, desceu da Igreja de Anindiba e, protegido por anjos e santos, regressou a Ribamar. O caminho por onde ia passando o celeste cortejo, encheu-se de suaves rastros de luz.

Somente assim compreenderam os moradores de Anindiba que o santo desejava permanecer em sua capela, de frente para o mar. Tempos depois, quando da construção de uma nova igreja, resolveram fazê-la de frente para a entrada da cidade - intento não alcançado porque as paredes da igreja várias vezes ruíram, até que os fiéis compreenderam que ela deveria permanecer voltada para o mar.

A festa do seu milagroso santo padroeiro é famosa e acontece durante dez dias, em data móvel do mês de setembro, sempre por ocasião da lua cheia. Cerca de 50 mil romeiros visitam Ribamar no dia 13 de setembro, quando depositam os ex-votos na Casa dos Milagres e visitam a estátua de 17,5 m erguida para o protetor.

A outra festa de destaque da cidade não é nada religiosa: no primeiro fim de semana após quarta-feira de cinzas, mais de 100 mil pessoas se reúnem para assistir um desfile dos tradicionais blocos do carnaval de São Luís.


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