O bata é uma tradição africana, mais especificamente do povo Yoruba, localizado na África Ocidental. Os batas são instrumentos de percussão feitos com madeira e pele de animal, principalmente de antílopes. Os artefatos chegaram ao Brasil com os escravos, ganhando outros nomes e também participando de outras tradições. Acredita-se que o som desses instrumentos simbolize o trovão. O bata é ligado ao poderoso Sàngó (Xangô), o terceiro rei de Yoruba, que viveu no século XV.
O grupo African Yoruba Bata - Lebe é responsável por uma grande integração entre elementos da cultura africana. Misturando cantos e danças, o grupo fala de situações do cotidiano, porém sem esquecer dos aspectos religiosos. O grupo foi fundado nos anos 1970, formando várias gerações de artistas. Essa é uma tradição familiar, passada de pai para filho, que resistiu ao tempo. Muitos dos membros são filhos ou netos dos fundadores do grupo. A preocupação em preservar essa cultura vai desde os ensinamentos de como construir e tocar o tambor de bata até os significados envolvidos nos rituais.
Yoruba é um povo, uma língua e uma cultura originária da Nigéria que se espalhou por diversos países pelo mundo. Os Batas são utilizados em rituais para os orixás e também para acordar ou chamar o rei de dentro do palácio. Finalmente, Lebe é o nome do sumo sacerdote do culto de Egungun, um culto de ancestralidade praticado pelos nigerianos. Antigamente, os percussionistas viajavam de cidade em cidade, se apresentando e divulgando a cultura Yoruba. O African Yoruba Bata - Lebe também já fez muitas viagens, até mesmo internacionais, apresentando sua cultura, inclusive com o apoio da UNESCO.
Encontro de Culturas
O grupo African Yoruba Bata - Lebe participou da XX edição do Encontro de Culturas. Na ocasião, utilizou os instrumentos Bata e Omele Meta Bata nas demonstrações dos batuques, fazendo representações a seus ancestrais com expressões corporais e cantos na língua Yoruba. Durante a passagem do grupo pela Vila de São Jorge, o coordenador do grupo, Olúségun Michael Akínrúlí, que fala português, foi o responsável por fazer o intermédio entre o público e as performances apresentadas no palco.
Durante a apresentação, os nigerianos mostraram o orixá que é uma representação da morte, que na concepção Yoruba não significa melancolia. Para o ritual, dois membros do grupo entraram no palco com uma roupa colorida que cobria todo o corpo e, enquanto dançavam ao ritmo dos instrumentos, mudavam rapidamente de roupa com uma sequência de movimentos. Segundo o coordenador do grupo, a mudança das roupas demonstra o quanto o corpo ou a 'casca' podem mudar, mas a alma permanece a mesma.
Outro orixá representado trouxe ao palco um dos integrantes do grupo, que se apresentou dentro de um "cilindro ilusionista" recoberto por panos multicoloridos. Este cilindro mudava brutalmente de tamanho, indo do chão a alturas surpreendentes. Os movimentos de baixo para cima representavam a conexão entre a terra e o sagrado.
A última apresentação performática mostrada foi dedicada a Xangô (divindade do fogo, trovão e da justiça). Encoberto por uma capa preta, um integrante acendeu uma tigela com fogo. Com um palito em chamas, ele o passava pelas pernas e braços. Depois disso, sentou atrás da tigela, pegou o fogo com as próprias mãos e levou até a boca, literalmente engolindo as chamas. Entre uma performance e outra, os nigerianos mostraram suas habilidades ao público, com sequências de saltos pelo palco. Veja no vídeo:
Os instrumentos e a mulher
Para um membro da cultura Yoruba, o instrumento musical é tido como sagrado. Além de servir como meio de comunicação social, também serve para se conectar com as divindades e com os ancestrais. Quando precisam ser transportados para alguma apresentação, os instrumentos nunca se separam de seus donos. Nas famílias que possuem tradição em instrumentos de percussão, o pai presenteia o filho com um tambor logo nos primeiros anos de vida. Na confecção dos instrumentos são utilizadas peles de antílope e bode.
Quem assiste a uma apresentação do Yoruba Bata - Lebe não verá a figura feminina nem nos palcos nem nos bastidores. A tradição explica que a percussão do bata é muito forte e poderosa. Sendo assim, as mulheres são impedidas de tocar, pois também são detentoras de muito poder e, quando se juntam ao Batá, podem gerar reações muito violentas e indesejáveis.
Choque Cultural
Quando o coordenador do grupo Olúségun Michael Akínrúlí foi perguntado sobre o maior choque cultural que percebeu ao chegar no Brasil, se lembrou da diferença em como se tratam os mortos. "Nós não lamentamos a morte, a não ser a morte de um jovem. Damos muito valor à longevidade. Para a gente, a longevidade é o pai da riqueza. Quando uma pessoa mais velha morre, fazemos festa para ela, o bairro todo colabora para a festa, que pode durar de semanas até meses", explicou. "Acreditamos que colocar alguém que morreu fora de nossa casa é um desrespeito. Porque se a pessoa trabalhou muito e quando morreu você o jogou para fora de sua residência está estimulando o esquecimento daquela pessoa. Quando você chega em casa, todos os dias e vê o túmulo do seu pai, por exemplo, você está em contato direto com a sua história, vai repensar melhor ao agir de forma errada, pois seu pai está ali, presente", finalizou.
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